Brasília, outono de 2008
Leonardo Alves Batista – Coordenador Geral do COEXISTA
Desde 1810 já existia a proposta de mudança do governo brasileiro do Rio de Janeiro para o interior, supostamente para garantir a segurança da capital do País, contra uma invasão inimiga.
Argumentos econômicos, ideológicos e geopolíticos eram usados continuamente para justificar a empreitada. A interiorização econômica, criação de novas estradas, o grande “projeto nacional” de transferência da capital era oficialmente divulgado como uma maneira de desenvolver o Brasil central.
Contudo, a verdadeira razão, oculta dos discursos desenvolvimentistas que defendiam a construção de Brasília era, devido ao seu isolamento geográfico, dificultar o acesso ao governo central das reivindicações de pessoas insatisfeitas com a administração pública.
A preocupação era organizar o território, não somente para prever batalhas contra um possível inimigo, mas principalmente, controlar de maneira eficaz as pessoas sobre as quais o aparelho de Estado exerce sua autoridade.
Eu estava pensando exatamente nisto, quanto o avião sobrevoava a periferia do Distrito Federal, aguardando autorização para pousar. A perspectiva da cidade vista do alto é uma coisa muito doida. De um lado você vê toda a opulência de Brasília, seus amplos espaços, seus prédios planejados, sua arquitetura monumental e seus corredores viários, do outro toda a miséria das cidades satélites com ruas de terra vermelha que me lembram veias abertas formando rios de sangue.
Estas ocupações foram criadas a partir de uma política cruel de erradicação de favelas e segregação sócio-espacial, onde as distâncias entre o Plano Piloto e as Cidades Satélites funcionam como verdadeiras muralhas horizontais de mais de 30 quilômetros de extensão. A obrigatoriedade de percorrer grandes distâncias para se chegar à Brasília, aliada à mais elevada tarifa de transporte público do país inviabiliza a cidade para a maioria da população local, neste modelo oneroso de ocupação territorial.
Se chegar a Brasília é difícil para os próprios moradores, imagine para pessoas de Rio Grande do Norte, Bahia, Pernambuco, Paraná, Maranhão, Amazonas que, caso desejem fazer pressão sobre nossos governantes, mobilizem seus pares para esta empreitada.
Porém, o que os idealizadores temiam estava acontecendo. Naquela manhã quente de domingo, a cidade estava sendo invadida. Uma horda barulhenta e multicolorida descia dos vários aviões que estavam pousando.
Eram jovens vindos de todos estados brasileiros para participar da 1ª Conferência Nacional de Juventude. Traziam, além da bagagem, a esperança da mudança e a certeza da importância histórica que aquele momento representava para a conquista dos direitos da juventude.
Estes mais de dois mil combatentes, que com eu, foram votados e eleitos Delegados Nacionais nas Conferências preparatórias realizadas nos seus respectivos estados tinham um misão. Estavam em Brasília representando mais de 50 milhões de jovens do Brasil, que pela primeira vez na história do nosso país, foram convocados para ajudar a pensar que projeto de nação nos queremos pra gente.
E esta juventude, com todas sua irreverência, ocupou a Capital Federal, rompendo os limites simbólicos, geográficos, políticos e ideológicos, num grande evento em defesa dos direitos de todos e todas os (as) jovens deste grande e amado país chamado Brasil.
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